A tenda cigana e a Espiritualidade da Resiliência – Por Dom Jorge Pierozan

Enquanto Padre, o então vice-presidente da PN, Dom Jorge Pierozan escreveu nas seguintes palavras a bela espiritualidade da resiliência e a tenda cigana.

A Pastoral dos Nômades do Brasil (PN) é um serviço estruturado de assistência religiosa que a Igreja Católica mantém entre os irmãos nômades: ciganos, circenses e trabalhadores dos parques  de  diversões.  É  uma  sincera tentativa  da Igreja  no  intuito  de  ajudar  as populações nômades  a manterem  sua  unidade,  suas tradições,  seus  costumes, seu nomadismo,  sem  se deixarem arrastar  pelos  modismos  que uniformizam  as  pessoas  e descaracterizam culturas milenares.

Assim,  pensada organicamente, a PN existe  desde Junho  de 1984, quando  chegou  da Itália o Pe. Renato Rosso, justamente para iniciar este novo modo de aproximação da Igreja com as realidades nômades de nosso país. Não muito tempo depois tornei-me seminarista da Diocese de Caxias  do Sul,  RS  e  como  já  havia  trabalhado  no  circo,  Pe.  Renato procurou-me imediatamente para que – em nome da Igreja – fizéssemos a “tentativa de levar respeito, amor e esperança aos nômades do Brasil”.

Pessoalmente penso, no entanto, o que segue: quando algum dia, em algum lugar deste imenso país,  um  Católico deu,  em espírito  de  fraternidade,  um  copo  d’água  a  um cigano que passava, estava naquele momento acontecendo um atendimento pastoral, que se poderia, desde então, chamar de Pastoral dos Nômades.

Na CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), a nossa Pastoral na está ligada à Comissão Episcopal  Pastoral para  o Serviço  da  Caridade,  da  Justiça  e  da  Paz,  no Setor da Mobilidade Humana (a que era chamada de Linha 6 ou Linha Sócio-transformadora). No Vaticano, estamos alinhados com o Pontifício Conselho Pastoral para as Migrações e os Itinerantes.

O Presidente nacional da PN é Dom José Edson Santana Oliveira, Bispo Diocesano de Eunápolis, BA  e –  na 22ª Assembléia Nacional  da Pastoral  dos Nômades,  em Julho/2009 –  fui reeleito para o cargo de Vice-Presidente. Nossa secretaria nacional fica em Vitória, ES.

Os  Agentes  da  PN,  um  pequeno  grupo  de mais  ou menos 50  pessoas,  entre  padres, leigos, leigas,  religiosas, bispos, estão  espalhados  de  Norte  a  Sul  do  país.  Cada qual é proveniente de  uma  realidade  particular,  todos  têm uma bagagem  cultural  congênita  e  também acrescida de estudos e vivências. Não obstante  trazem, no bojo de seus sonhos de fraternidade universal,  a  tolerância,  tentando  – em  nome da  Igreja  de  Jesus  Cristo  –  compreender o apaixonante “ciganismo”, e querendo viver o instigante nomadismo.

Então, fincamos estacas aqui e acolá, procuramos viver o hoje, sob a mística do “somos servos inúteis”. Em contrapontos calados, no silêncio do testemunho de vida, gritamos ao mundo as nossas  ânsias,  ouvindo  o  apelo  do  profeta: “Aumenta  o  espaço  da  tua  tenda,  estende rapidamente a lona, estica as cordas, consolida as estacas”. (Is 54,2)

A  primeira  tarefa entre  os nômades, é  dizer que estamos aí simplesmente  por  que os amamos, dizer que a Igreja os ama, dizer que Deus os ama, apesar de todo preconceito e todas as perseguições que sofreram no decorrer dos tempos. Quando se sentem amados por nós, cria-se um vínculo afetivo, de amizade, de confiança, de respeito à cultura e eles começam a nos pedir para que celebremos um Batizado, um Matrimônio, para que abençoemos uma tenda, um trailer,que abençoemos uma gestante, que rezemos por uma criança que está doente, que procedamos ao Rito das Exéquias (a Encomendação de seus falecidos).

Também  procuramos,  na medida  do  possível, alfabetizar alguns  grupos,  passar certos cuidados com a higiene, prevenção contra epidemias e doenças, etc. Mas o primeiro papel é dizer: não queremos nada em troca, só estamos aqui por amor, estamos aqui porque vocês são nossos irmãos.

Continua….

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